Ônibus a balançar.
Pessoas pensam, ouvem música, leem.
Eu leio Machado de Assis.
Grande escritor.
Mais de um século que partiu.
E ainda encanta.
ME ENCANTA.
Ônibus a balançar.
O barulho não me incomoda.
Trânsito, buzinas, transeuntes?
Tampouco.
Meu incomodo é silêncioso.
É íntimo. É interno.
Tento e consigo me distrair com Brás Cubas. Ah Machado de Assis!
Mas algo me puxa para a realidade de forma brutal.
Uma música.
A voz doce atravessa meus ouvidos e finda em meu peito.
Retiro os olhos do livro. Procuro de onde vem aquele som.
Atrás de mim há uma mãe e seu filhinho. Ambos de olhos azuis e rosto sereno. Poderia chamá-los de anjos, se assim quisesse.
A mãe, conta o verso de uma canção, esta que desconheço.
O garotinho, continua aquele aquele mesmo verso, dando sequencia à outro.
A bela mulher nota meu olhar.
Sorrio em sinal de aprovação
Ela sorri de volta.
Deve ter percebido que olhava para eles com emoção.
Pouso os olhos sob o livro.
Quero chorar.
A emoção toma conta de mim.
Essa ligação mãe-filho sempre mexeu comigo.
Ônibus a balançar.
Próxima parada, faculdade.
Nesta parada, meus anjos de voz doce se vão.
E nunca mais os ouvirei.